Bill Gates alerta sobre crise alimentar: mudança climática agrava a situação

O mundo enfrenta uma séria crise alimentar, agravada pelas mudanças climáticas, alertou Bill Gates. O fundador da Microsoft e filantropo enfatizou que avanços arduamente conquistados na saúde infantil estão ameaçados, a menos que os países ricos aumentem suas assistências onde elas são mais necessárias. Sem ações globais imediatas, entre 2024 e 2050, cerca de 40 milhões de crianças adicionais podem sofrer de atraso no crescimento e 28 milhões de emaciação, na qual elas se tornam fracas e magras, disse Gates. Estas condições são "as formas mais severas de desnutrição crônica e aguda". A Fundação Bill & Melinda Gates declarou que as mudanças climáticas já ameaçam a segurança alimentar, pois a diminuição da produtividade global das colheitas e os preços mais altos dos alimentos obrigam as pessoas a recorrerem a produtos mais baratos e menos nutritivos. O relatório anual Goalkeepers da fundação, publicado na terça-feira, mostrou que entre 2000 e 2020 um "boom global de saúde" pôde reduzir a taxa de mortalidade infantil em 50 por cento. No entanto, esse progresso foi "brutalmente interrompido" desde a pandemia de coronavírus. Aumento nos gastos com defesa para a Ucrânia bem como no Oriente Médio estavam entre os fatores que levaram os países ocidentais a hesitarem em doar. A perda de fundos é particularmente grave na África, cuja parcela de ajuda externa total caiu de quase 40 por cento em 2010 para apenas 25 por cento – o menor percentual em 20 anos. Isso expõe milhões de crianças a altos riscos. Dívidas crescentes significaram que algumas nações africanas "gastam mais com pagamentos de juros do que com saúde e educação juntas", disse Gates, acrescentando: "Os cortes nos orçamentos de ajuda prejudicam." Segundo o Banco Mundial, a desnutrição em forma de habilidades físicas e cognitivas prejudicadas leva a perdas de produtividade de cerca de 3 trilhões de dólares por ano. Em países de baixa renda, essa perda pode representar cerca de 16 por cento do PIB, de acordo com o relatório Goalkeepers. Um aumento nos investimentos em países mais pobres também ajudaria a detectar crises de saúde precocemente, antes que se tornassem pandemias globais. "A última nos custou mais de um trilhão de dólares", disse Gates ao Financial Times. "Apoiar esses sistemas primários de saúde [...] é uma apólice de seguro fantástica." Gates destacou que a ajuda deve ser direcionada para onde possa ter o maior impacto, incluindo o Child Nutrition Fund, uma nova plataforma para coordenação de financiamentos de doadores. Os governos também precisam financiar completamente "as instituições estabelecidas que se provaram eficazes em proteger milhões de vidas anualmente", segundo o relatório, incluindo o Fundo Global para Combate à AIDS, Tuberculose e Malária, e a Aliança para Vacinas Gavi, que melhora o acesso a vacinas para crianças nos países mais pobres. Ambas as organizações planejam rodadas de financiamento no próximo ano. Gates disse que o conselho da Gavi inicialmente planejava arrecadar 20 por cento a mais, mas reduziu suas ambições e agora está buscando reunir a mesma quantia de cinco anos atrás: cerca de 2 bilhões de dólares por ano. Mas mesmo esse objetivo é incerto. Crescente emissões de CO₂ estariam reduzindo o valor nutricional de colheitas importantes, diminuindo os níveis de ferro e zinco na dieta diária, explicou a fundação. No entanto, se a desnutrição puder ser resolvida, "será mais fácil erradicar a pobreza extrema; vacinas são mais eficazes; e doenças mortais como malária e pneumonia se tornarão muito menos letais", disse Gates no relatório. Abordagens que poderiam ajudar a reduzir a desnutrição incluem tecnologias agrícolas que produzem duas a três vezes mais leite das vacas, novas técnicas de fortificação de sal e cubos de caldo, bem como a distribuição ampliada de vitaminas e suplementos de micronutrientes pré-natais, que custam apenas US$ 2,60 para uma gravidez inteira. O relatório Goalkeepers se concentra na avaliação do progresso em relação aos objetivos de desenvolvimento sustentável das Nações Unidas. Uma análise do Institute for Health Metrics and Evaluation, com sede em Seattle, encomendada pela fundação, contribuiu para as previsões.